É interessante como algumas matérias do The New York Times ganham as manchetes imediatamente e com tanta autoridade, mas somente se estiver de acordo com as convenções editoriais. Ativistas disfarçados de jornalistas e professores vêm, nos últimos anos, propagando a idéia de que não há melhor alternativa para os problemas climáticos do planeta do que energia solar e eólica. Condenam com toda força as possibilidades de energia obtida a partir de combustíveis fósseis e nuclear. Só que eles só contam metade da história.
Os painéis solares, por exemplo, são constituídos de silicio cristalino, silicio amorfo, arsenieto de gálio e organometálicos[1] geralmente com platina solúvel. A platina e o gálio são metais mais raros que o ouro; o arsênico é venenoso e as ligas organometálicas podem ser extremamente poluentes. As baterias, usadas para armazenar a energia transformada, são ricas em lítio, o principal componente, e outras matérias-primas que são adquiridas de maneiras pouco ecológicas.
Tem mais. O que fazer com os painéis solares e turbinas eólicas quando quebram?
Os europeus já resolveram essa questão: mandam pro local que eles consideram ser o lixão do planeta: a África.
De acordo com essa matéria de Amy Yee do The New York Times de 12 de maio de 2019, a Tanzânia tem desfrutado, nos últimos anos, de uma riqueza e prosperidade crescentes, mas também de um aumento do lixo eletrônico, que muitas vezes é descartado de maneira inadequada.
A rotina é a seguinte: homens em uniformes verdes e mulheres usando saias e botas de borracha, armados com vassouras e pás, varrem os detritos usuais de vegetais e frutas descartados, junto com garrafas e embalagens plásticas e os jogam na boca dos caminhões que os transportam para o lixão.
De acordo com a interpretação da jornalista este cenário de coleta de lixo formal sinaliza progresso mas para complicar o problema do descarte de lixo está o aumento da quantidade de lixo eletrônico. O lixo eletrônico inclui tudo, desde monitores de computador a aparelhos de televisão, telefones celulares e muito mais.
Trata-se de uma preocupação ambiental em países mais ricos, mas o problema está crescendo em lugares como a África Oriental, à medida que a renda aumenta e mais pessoas podem comprar aparelhos eletrônicos, aliado ao fato da comunidade européia fazer “doações” de equipamentos desse tipo, de segunda mão, para serem desmontados e comercializadas as partes que podem ser reaproveitadas. Os Estados Unidos fazem a mesma coisa no México e na América Central. O problema são as partes que não podem ser reaproveitadas.
Cerca de 98% de um painel solar pode ser reciclado. Às custas de um gasto condenável de energia e água. Pesquisas destacam que há poucos incentivos para reciclar painéis solares, já que o custo de recuperação dos materiais supera os custos de extração do que pode ser reciclado - mesmo sem adicionar despesas de transporte. Países pobres não têm condições de arcar com isso.
Em Dar es Salaam, por exemplo, os trabalhadores que coletam baterias de chumbo-ácido pesadas usadas em carros, sistemas de backup de energia e sistemas solares de telhado freqüentemente os quebram com facões e drenam o ácido para o solo manualmente. Em seguida, eles vendem essas baterias para fábricas que derretem a sucata de chumbo em fornos para serem revendidas. O rio Msimbazi não deve ser usado para irrigação de vegetais, pois a água com metais pesados excedeu os limites permitidos de acordo com a OMS e o Bureau de Padrões da Tanzânia. As amostras mostraram níveis de cromo, cobre e chumbo muito acima dos níveis de segurança da Organização Mundial de Saúde.
A energia solar tem benefícios claros. É uma alternativa limpa aos combustíveis fósseis, que (supostamente) contribuem para as mudanças climáticas. Fornece energia renovável que geralmente é mais barata do que a eletricidade produzida a partir de geradores a diesel sujos e querosene. No entanto, as baterias de lítio das lanternas solares são difíceis de reciclar. Freqüentemente, são despejadas ou mesmo queimadas com lixo comum.
Os sistemas solares de telhado se conectam a baterias de chumbo-ácido que duram de cinco a oito anos, se mantidos adequadamente, e então são descartados. Algumas empresas de baterias de chumbo-ácido fornecem serviços formais de reciclagem na África Oriental. Mas eles são limitados e os custos são muito elevados.
Em tempo: uma das empresas de reciclagem fechou em 2018, em parte por causa da “falta de investidores dispostos a financiar empresas de resíduos e uma hesitação das empresas em pagar por seus resíduos devido à falta de regulamentação ou fiscalização”, explicou a fundadora.
Então o sonho não é tão simples quanto a Greta Tunberg faz parecer. A Joana D´Arc do ambientalismo atual não se aprofunda, não compreende as consequências de suas exigências em sistemas complexos.
[1] organometálicos apresentam pelo menos uma ligação entre átomos de metais ou semimetais diretamente ao átomo de carbono de uma cadeia carbônica.